O Efeito Borboleta, do matemático norte-americano Edward Lorenz, consiste na representação gráfica do bater das asas de uma borboleta. Este termo refere-se às condições iniciais, de qualquer movimento dentro de um sistema, da Teoria do Caos. É como se uma simples borboleta batesse suas asas numa ilha distante e, do outro lado do mundo, dentro de algumas semanas, sentiríamos o seu efeito, como um tufão, por exemplo. A relação proposta é de causa e efeito. Lorenz mostrou, através de um cálculo, que é possível prever os resultados dos sistemas lineares, com resultados imprecisos nos sistemas não lineares.

A equação de Edward pode ser aplicada em qualquer área da ciência, seja ela exata, médica, biológica ou humana. Inclui-se aí a psicologia e o pensamento. Ou seja, para a teoria, tudo o que fazemos hoje, dentro de um determinado período de tempo, considerando todas as variáveis, provoca efeitos e resultados no futuro. Se toda a ação obtém um determinado resultado, sua reação, que é imprevisível, pode modificá-lo instantaneamente. Então, quando tomamos uma decisão, com nosso livre-arbítrio, podemos produzir resultados inesperados no futuro.

Como um exímio contador de histórias, hoje me dou conta de que muitas vezes quero melhorar as minhas narrativas, especialmente aquilo que vivi no passado. Repenso as histórias com alguma tendência a aprimorá-las, modificando a maneira como as enxergo — o ponto de vista —, e justificando esses lineares do pensamento com inúmeras perspectivas e possibilidades. Quando olho para trás, imagino um grande pano branco ou verde, que no jornalismo chamamos de cromaqui, onde são projetadas imagens ao fundo do apresentador. Hoje a técnica é largamente explorada pelas telenovelas brasileiras e pelo cinema americano. As imagens, na verdade, não estão ali, mas projetadas naquele ambiente virtual. Esse recorte só é visível na tela do computador ou, no resultado final, no vídeo, sendo que o editor pode manipular, recortar, colar, acelerar ou paralisar uma imagem ao fundo. No entanto, o resultado do que vemos na tela é um olhar guiado por interesses de forma, volume, cor, som, saturação, densidade, tonalidade e cronologia de espaço e tempo. Enfim, uma ilusão.

Que tal se pudéssemos alterar as projeções no pano de fundo de nossas vidas? Certamente muita coisa mudaria, especialmente para sujeitos como eu que reconta histórias sob outros pontos de vista, no intuito de melhorar a percepção sobre determinado acontecimento, mesmo depois de já projetados e cristalizados nos frames do tempo.

Um fato isolado é só um fato — disse Edward Lorenz —, mas um fato visto por mais de um indivíduo tem, pelo menos, duas interpretações. Nossos atos e ações de hoje, vão reverberar incólumes no pretenso futuro. Não somos capazes de modificar nem melhorar o passado, ainda que o desejemos. Aceitá-lo é o primeiro passo para melhor convivermos com ele, com nossos erros e acertos. Contudo, já que temos o poder da escolha, podemos pretender um melhor futuro. Um lugar mais tranquilo, onde os pensamentos não assombrem nem desejem voltar no tempo para melhorar o que já foi vivido.

Penso que o livre-arbítrio é de foro íntimo, deixando-nos completamente soltos para nossas escolhas e destinos. Porém, nos condena, registrando nossas ações em nossa consciência. Hoje imagino um pano de fundo para a minha vida e nele incluo os mais belos cenários, a Flor e a Margô. Incluo as cores de Almodóvar e a luz de Tarantino. Se não posso alterar a minha história pretérita, posso alterar o curso da minha história futura e desejar que as asas da minha borboleta planem por bons caminhos, consciente de que as minhas decisões também alteram a história de vida de outras pessoas. No aqui e agora, sou o editor que pode atrasar erros e acelerar acertos e, assim, desejar um final mais assertivo e feliz.

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