Já tem algum tempo que o cinema americano faz grandes investidas no gênero de ficção científica, em especial os filmes que têm como base a Física Quântica. Acho que a trilogia mais popular, quase precursora, é do filme “De Volta Para o Futuro” — “Back to the Future”, do diretor Robert Zemeckis. O último título lançado foi em 1990. Marty McFly, um estudante rebelde que só pensava na namorada, era o fiel assistente do Dr. Emmett Brown. Após algumas descobertas do cientista maluco, eles voltavam do passado ou iriam para o futuro, na megamáquina — o automóvel DeLorian. Quanto ele atingia a velocidade de 140 km por hora, era transportado pelas partículas elétricas do condensador para uma data programada. Penso, então, que o cinema sempre traduziu magnificamente as realidades que formam a nossa vida. Quando vemos a vida representada na grande tela, de certa forma, somos também transportados para outra realidade. Imagino que isso se deva pelo ambiente, pelo escuro da sala de projeção, pelas novas tecnologias e pela definição da imagem, pelas dimensões da tela e pelo som espacial que envolve o espectador. Naquele momento, nos desligamos do mundo exterior para mergulhar na trama que é contada, projetada à vista dos olhos e dos sentidos, apesar dos barulhos desagradáveis da pipoca e das luzes dos celulares que quebram a ilusão, trazendo-nos de volta ao mundo real.
A minha última formação acadêmica fora em biologia, área onde mais me especializei, embora a comunicação social — meu primeiro estágio acadêmico — sempre me chamara à atenção. Os filmes que assistimos — proeminência nessa área —, de certa forma, também contribuem para melhorarmos a percepção da vida à nossa volta. Passamos a observá-la mais atentos e argumentativos, sugestionados, talvez tentando decifrar o que é subjetivo, os símbolos, os ícones, a linguagem cinematográfica, depois do mergulho em realidades que antes não imaginávamos, em mundos que antes não nos pertenciam.
Em “Efeito Borboleta” — “The Butter Effect”, de 2004, com roteiro e direção de Eric Bress e Macky Gruber, a personagem principal, vivida pelo ator Ashton Kutcher, possui o dom de manipular o passado, mas não pode controlar o futuro. No filme, o personagem de Kutcher descobre a própria habilidade de voltar a consciência no tempo. Com isso, retorna várias vezes à sua conturbada infância. Contudo, melhorar uma questão no passado, significava alterar as consequências no futuro.
O filme “Stay”, traduzido para o português como “A Passagem”, com Ewan McGregor, Noms Watts e Ryan Gosling, mostra suas personagens que vivem em, pelo menos, duas realidades ao mesmo tempo. A proposta de Foster provavelmente fora uma só, quando o único personagem que vivia em nossa realidade era Sam Foster. Henry, o pai e a mãe, e a garçonete, provavelmente estariam mortos, ou seja, vivendo em outra dimensão. Suponho também que a namorada, que havia cortado os pulsos na banheira, também estaria morta durante a trama. É no final do filme que ela tem o primeiro encontro com o psiquiatra, o Dr. Sam. Para a Física, seria muito simples e concebível que ela estivesse viva e morta ao mesmo tempo, mas para a nossa realidade não. Para mim, Henry se mata duas vezes. Uma, dirigindo o carro acidentado, e outra se suicidando, pela culpa, numa outra realidade, ainda que percebida somente por Sam.
Já imaginou se tivéssemos um automóvel DeLorian, ou a capacidade de mudarmos o nosso nível de consciência para voltarmos ao passado, ou para avançarmos no tempo, a fim de modificarmos os acontecimentos ruins? Já experimentei algumas técnicas orientais que propunham a alteração do nível de consciência. Claro que você não altera em nada os fatos do passado, mas quando atingimos uma “melhor” consciência, que julgamos mais equilibrada e, talvez, evoluída, conseguimos modificar um evento lá no futuro. Ora, se hoje somos um ser melhor, com uma complexidade compreensível e ajustada, logo experimentamos uma melhor realidade num futuro próximo ou distante. Entre os métodos, destaco o giro Sufi, uma das técnicas mais antigas de meditação, capaz de alterar a consciência de forma profunda no praticante. O método consiste em um giro contínuo em volta do eixo do corpo, com os braços abertos e as palmas das mãos viradas uma para o céu e outra para o solo, por aproximadamente uma hora. Para a tradição, quanto mais tempo de giro, mais elevado é o grau de consciência do indivíduo, o aprendizado, o equilíbrio e a purificação.
Acredito que, embora a ciência não comprove a vida após a morte, a realidade esteja acontecendo em outras frequências, em outras dimensões, simultaneamente. Parece que Dr. Sam vivia em dois momentos reais ao mesmo tempo. Havia um diálogo entre dois mundos, entre duas realidades, como acontece em mesas mediúnicas para os que acreditam no espiritismo, por exemplo. Interessante, contudo, no filme, é que os objetos tangíveis eram os mesmos nas duas dimensões. Apesar desse ser um recurso do cinema, essa era uma visão questionadora do roteirista, do diretor. E na vida? Será que tem alguém usando o nosso espaço, as nossas coisas ao mesmo tempo? Será que estamos interagindo com outras dimensões, além das ondas eletromagnéticas, que não notamos ou percebemos? Será que todos os que estão à nossa volta, nesse exato momento, fazem parte da mesma realidade? Enfim, somos seres particularmente complexos, eu, você e eles.
“Minha cabeça virou um chocalho com este texto” [2] porque vc muda de assunto em cada parágrafo como se escrevesse vários textos num só. Ok. Gostei muito do teu texto. Não entendo nada de física (nem tive isso no colégio, graças a deus!) e também, infelizmente, não vi os filmes com exceção de De volta para o futuro. Mas me parece que o teu texto é menos sobre física ou filosofia e mais sobre o efeito de realidade no cinema. Quem sabe você dá uma lida em A Linguagem Cinematográfia, do Christian Metz? Tem uns capítulos bem interessantes ali que tratam sobre isso, inclusive comparando com o teatro. Sem esquecer de ler A Poética, do Aristóteles, se é que você já não leu isso. Não me parece que seja mais possível o efeito de realidade se estabelecer no cinema em relação ao teatro, ambos com salas escuras e sentidos (visão e audição, mais que os outros) passíveis de serem motivados. Mas o nosso comportamento enquanto público é que é diferente, mesmo na literatura ou nas artes plásticas e música.
Somos seres muito complexos, e descobrimos todos os dias que podemos nos entender e talvez nos reinventar através do olhar do outro… Minha cabeça virou um chocalho com este texto, mas valeu a pena ler e reler… rsrs… Uma ótima semana de observações!!!
É, meu caro… somos seres complexos em uma rede complexa, em um mundo complexo, em uma rede complexa de “mundos”! rsrsrs… Viajei muito??? Tô ficando um pouco parecido com você nesse ponto! O filme é ótimo, embora ainda esteja precisando revê-lo pela 2a vez, como você fez, pra sacar melhor o que você sacou… só que por mim memso! Vale destacar a direção do filme e os recursos tecnológicos usados pra fazer a “passagem” de uma realidade para a outra, passando de uma cena pra outra! Genial! É, literalmente, de fazer nossas cabeças girarem, tentando acompanhar essas mudanças! Acho que o mundo faz isso também com nossas cabeças (cabeças – no sentido de ‘mente’)! Diariamente, em certas épocas… É essa complexidade dos sistemas e dos indivíduos em si que faz isso acontecer! Sabe o que me veio à mente agora?… Como seria confrontar a sua “TEORIA DA BOLHA” com esse raciocínio de “SERES COMPLEXOS”, como diz o título deste texto?… Forte abraço.
Guri, que texto louco!!! Louco no bom sentido, já que nos leva a um mundo de ilusões, e nos faz perder o contato consigo mesmo. Porém a única coisa impossível na vida é fugirmos de nós mesmos. Somos a nossa real, verdadeira e permanente companhia.
Pode acreditar, que quando estamos na frequência certa nos sentimos integrados ao outro, ao todo e somos todos um. As informações que estão contidas em você começam a estalar em sua mente consciente, com uma profunda sensação de estar totalmente amparado por uma força maior. Esta frequência é como uma espiral dinâmica, que define o tempo de todas as coisas vivas. Quantos mistérios! Há muitos mistérios por serem desvendados sobre o tempo em que vivemos e o nosso conhecimento cosmológico. E vamos surfar em ondas de pura luz… e quem sabe descobrir se somos reais. Ah… acho você meio louco, mas os loucos são as melhores pessoas.
Posso ser complexa, mas te amo à veraaaaaaaaa… Mega saudades!!!!