Pelo Tempo Que Restar

A verdade mais exata do homem provavelmente esteja em seu código genético, no seu DNA. Depois de concebido, não há como alterá-lo e tampouco como fugir dele. As informações herdadas dos nossos pais estarão contidas no nosso sangue, nas nossas células, nos nossos cromossomos, nas nossas moléculas. São elas que determinarão com exatidão a nossa altura, a cor dos nossos olhos, a cor da nossa pele e do nosso cabelo. Determinarão também a nossa capacidade de aprendizado e o nosso grau de inteligência e aptidão. O gene define ainda a nossa sexualidade, parte do nosso caráter, e até mesmo traços da nossa personalidade, embora possamos moldar a individualidade com o tempo e com as experiências vividas. Na linhagem do indivíduo, estarão armazenadas algumas informações que o tornarão membro social de determinado grupo, relativamente parecido entre si e com certa exclusividade. O alemão é muito diferente do indiano, que é muito diferente do inglês, que é diferente do africano, que é muito diferente do árabe, que é completamente diferente do japonês, que não se parece com o brasileiro. Cristãos tendem a ter filhos Cristãos. Muçulmanos seguem o Alcorão. Descendentes de chineses nascem Comunistas e têm grandes chances de seguirem o Budismo ou o Taoismo. Filhos de pobres têm mais possibilidades de permanecerem pobres. E descendentes da realeza tem mais chances de se perderem no mundo.

Nem todos os filhos serão criados pelas mães que os geraram, contudo os traços genéticos estarão gravados neles e os acompanharão vida afora. Acredito que mesmo na morte os nossos registros permanecerão impressos em nós, em algo chamado perispírito, um invólucro fluído que para os espíritas liga a alma ao corpo.

Se boa parte do que somos, foi herdado por nossa educação, ou pelo meio em que vivemos, outra parece ter sido codificada em nós. Eu, por exemplo, sou descendente de alemão e carrego na personalidade um perfil bastante esquivo e teimoso, um pouco temperamental — dizem —, porém alegre e otimista. Puxei pela família de mamãe que é Pansenhagen. Pareço-me mais com meu avô e meus tios maternos. Não quero acreditar, porém, que meus antepassados foram nazistas de guerra. Pelo contrário, quero imaginar que migraram para terras distantes justamente para fugir do horror do genocídio que é bom ser lembrado para que a humanidade jamais repita tamanha barbaridade. É preciso não esquecer para não repetir. A família de papai, no entanto, talvez por ter se formado num centro urbano, não manteve as mesmas raízes coloniais que os Pansenhagen. Dizem que desembarcaram aqui numa época em que D. Pedro II abriu portos e distribuiu terras para os europeus que quisessem plantar.

Lembro-me que quando criança, íamos para as festas de Kerb, numa pequena cidade do Sul do país chamada Feliz. Tratava-se de uma festa germânica do povo do Sul. Os encontros geralmente se davam em torno de festividades religiosas, quase sempre de evangélicos protestantes, reunindo dezenas de familiares que passavam três dias degustando comidas típicas. Todos os quitutes eram preparados pelas mulheres, enquanto os homens se encarregam de assar as carnes e de gelar as bebidas. Para se ter uma ideia, na colônia, nessas ocasiões, geralmente eram abatidos três porcos e um boi e, semanas antes, dúzias de cerveja artesanal eram enterradas para fermentar.

Acredito que quando conhecemos as nossas raízes, as nossas origens, as chances de nos conhecermos melhor, enquanto indivíduo, aumentam. Penso que as minhas atitudes são tão parecidas com as atitudes dos meus pais que, por vezes, se parecem com as atitudes dos meus avós e assim sucessivamente, mantendo as devidas proporções de época e de tempo. E o mais interessante é que, quando me distancio deles, sempre aparece alguém para me lembrar de onde vim, dos meus princípios, dos meus inícios, e quem eu realmente sou.

Não sei se vivi plenamente todas as fases da minha vida, todas as minhas primaveras, mas francamente me vejo um sujeito melhor do que no passado. Se olhar para esse passado é olhar para os que me antecederam, confesso que somos muito parecidos. Nossas diferenças, talvez, estejam nas oportunidades que a vida apresentou e ofereceu, no universo tão particular de cada um. Minhas raízes são mais flexíveis — acredito —, se prendem ao solo com facilidade, ao mesmo tempo em que se soltam sem maiores prejuízos. Na juventude, decidi seguir o impulso de viver num lugar distante e, hoje, depois de ter conhecido a Margô e formado uma pequena família com o nascimento de Flor, e com os dois cachorrinhos, os acompanho em pensamentos ou, ora e outra, com agradáveis visitas. Eles são parte de mim, e de todo o tempo que me resta. Gente simples, que tem a cara fechada, e que a timidez os deixa facilmente ruborizada, mas que a sinceridade os faz extremamente justos e honestos. Nasci numa época em que as famílias eram tradicionalmente formadas por muitos membros, paridas de muitos filhos. Hoje formamos famílias menores, pequeninas, consanguíneas ou adotadas e até mesmo individuais. Contudo, não importa o tamanho. De alguma forma, descendemos dessa miscigenação de raças e etnias e somos nós os sucessores dessa perpetuidade. Sabe-se lá se num futuro os netos dos nossos netos saberão de nós. Dedico todo o meu amor à minha mulher, à minha filha, aos meus avós, aos meus pais e irmãos. Estimo o mais sincero sentimentos de gratidão todos os dias, e acrescento ainda que saberei reconhecê-los pela eternidade.

Comentários (17)

  1. Esse é meu primo!!
    Também sou descendente dos “Einsfeld” e sinto imenso orgulho por fazer parte dessa família. Com certeza carregamos em nosso corpo os traços moldados com muito amor e carinho pelos nossos pais, mas a essência mágica disso tudo é o que carregamos no coração… a gratidão pela nossa família; o orgulho de fazer parte da mesma; o carinho que temos pelos nossos; (isso é típico de alemão, gente boa demais) e o melhor: As lições de vida, o carisma e o caráter que é uma marca inegável e incorrompível na índole de cada membro!!!
    Obrigada meu primo querido, por você existir e fazer parte da mesma família que eu!!

    Bjus da prima do Sul que te ama muito!

  2. Parabéns querido, a homenagen às nossas raizes foi linda. Por isso sempre agradeço o presente que ele me deu por ter você como sobrinho. Amo você muito e acho que já disse isso várias vezes, mas não me canso de repetir: você veio à Terra em forma de um anjo e que papai do céu permita que você fique entre nós mais um MONTÃO de anos. Bjosssssssssssssssssssss.

  3. Olá Joseph!
    Belo texto sobre sua família!

    Sem dúvida nenhuma a família é o nosso alicerce e a base de uma boa formação! Sem ela tudo desmorona e fica sem cor, sem chão, sem gosto, sem graça!

    Abçs!

  4. Você realmente é um menino muito especial… por esse e outros presentes que nos dá todos os dias eu aprendia a te querer muito, e bem. Ótimo noite de pic-pic.

  5. Joe,
    Posso dizer que lendo o seu texto, ficou fácil entender o ser humano que você é, e ainda que nada na vida é por acaso. Tenho certeza que se você é esta grande pessoa que você é hoje… amigo, interessado pela vida, inteligente e ainda alemão, é porque você tem uma família linda, e ela com certeza serviu de base para construir o que você é hoje.
    Não considero o texto mais bem escrito, pois acho que todos são, mas considero o que melhor retrata você, o que você é de verdade, e posso afirmar que foi o que mais me emocionou. Você é o tipo de pessoa que prova que a vida vale a pena, e que as pessoas podem ser melhores do que são, do que se mostram.
    Que bom poder compartilhar de momentos tão importantes como o de hoje. Parabéns… parabéns pelo seu dia e principalmente pela família linda. Bjs.
    Ahhh… vou correndo dar um abraço nos meus pais e dizer que eu os amo.

  6. Que texto mais lindo!
    Ufa… sem palavras, emocionada.
    Parabéns nosso verdadeiro charme, pode ser gabar sim… porque não é só no físico, mas você é um charme de ser humano, um charme de amigo, irmão…
    Tenho gratidão e orgulho da nossa família, pelas nossas origens. Temos muito a agradecer sempre, mas hoje só podemos agradecer a você, é teu dia, por fazer parte desta família MARAVILHOSA.
    Te amamos demais!!!
    Mana.

  7. Querido,
    Que bom conhecer a tua alma e reconhecer-me nela. Parabéns pelas tuas conquistas, por tuas escolhas. Parabéns por saberes que és. Felicidades no teu novo ano. Estarei sempre por perto. Teresa.

  8. Olá!!!!

    Com certeza não tem nada mais belo do que a familia da gente.
    Sabe, não se sinta longe, pois foi em busca do teu sonho. Evoluiu, foi forte, bravo e hoje, está longe fisicamente, porém, muito mais presente do que em outros momentos em que estava perto.
    Falando em perfil, acredito que você é persistente e não teimoso e sua alegria contagia.
    O texto está ótimo.

    Abraços Diva.

  9. Poxa, amigo, sem palavras. Mexeu muito comigo. Prefiro me recolher. Ainda vivo muito esse teu mundo antigo, sou teólogo protestante, conheço bem os “redutos” alemães.
    Abraços. Sidnei.

  10. Bom….lendo seu texto, que como sempre nos emociona, nos faz ir muitas vezes o mais fundo que podemos em nossa alma…me faz valorizar cada vez mais as minhas voltas pra casa.

    Quando eu comecei a trabalhar neste meu ofício, que hoje me faz realizada, você estava lá… presente em cada momento, em cada saudade… e foi à partir de então que eu comecei a valorizar cada volta, cada reencontro. Engraçado né… como precisamos sair um pouco de nossas raízes para valorizá-las ainda mais. Os sentimentos ficam mais profundos.

    Saiba com toda certeza: “Mais uma vez eu vou te deixar, mas eu volto logo pra te ver, vou com saudades no meu coração”… e saiba que você eu levarei por toda eternidade, em meu coração, pois você… é amor de alma.

    Grande beijo neste guri que aparenta muito menos do que essas 37 primaveras. E só pra matar de inveja teus outros amigos, eu estava lá e pude comer a torta de doce de leite e ameixa… hehe!

  11. Olá Zé,

    Primeiramente, feliz aniversário mega atrasado. Quem me conhece sabe como sou. Depois, desculpe a ausência, mas digamos que estava em um retiro espiritual comigo mesma. Mas saiba que sempre me lembro de você. Quanto ao texto, simplesmente bárbaro… Álias, como sempre.
    Um beijão. Jaque.

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