Era um domingo de sol primaveril com previsão de chuva para a noite. Margô locou alguns filmes para assistirmos logo mais, à tarde, um hábito adquirido ao longo dos últimos anos. Assim, passávamos tardes inteiras sentados no sofá, oferecendo aconchego um ao outro, um pouco de gargalhada e pipoca. Naquele dia, Margô quis uma tarde romântica, selecionando três simpáticos filmes que tratavam sobre a busca incessante do amor — da felicidade conjugada: “Divã” de José Alvarenga Jr., “Ele Não Está Tão a Fim de Você” — “He’s Just Not That Into You” do diretor Ken Kwapis e “Eu Te Amo, Cara” com o ator Peter Klaven. Ambos os filmes falavam da necessidade de encontrarmos a nossa cara metade, a nossa meia laranja, seja lá de que maneira for. Mostrava também o grande esforço que travamos para viver uma relação plena.

Em “Divã”, Mercedes, uma quarentona bem casada e aparentemente feliz, senta-se literalmente no divã para se conhecer. E, ao longo da trama, vai revelando sua história. Mercedes é bárbara, é a personificação da vida da gente contada na tela grande. Quem um dia não se sentiu sozinho? Quem aos quarenta anos já não experimentou um casamento, uma vida a dois? Quem aos quarenta não se separou pelo menos umas dez vezes, seja de amigos ou namorados, seja de esposas e maridos, de amantes e amores? E, hoje, depois dos setenta? Ah… daí é outra história.

Uma separação, num primeiro momento, é dolorosa. Parece que o mundo desaba; que planos e horizontes se desfazem. No entanto, mais adiante, vamos perceber que a vida, na verdade, lhe fez um belo favor. As paixões têm ciclos determinados, com início, meio, e fim. Rompimentos, apesar de tristes e, muitas vezes, indizíveis, libertam o coração para outros momentos bons que estavam querendo entrar em nossas vidas e não podiam. Mas ficamos ali, aprisionados a momentos vencidos. Só Deus sabe quanto tempo será necessário para que algo, ou alguém, seja verdadeiramente “esquecido”.

No filme “Ele Não Está tão a Fim de Você”, as histórias que correm em paralelo ao drama de Gigi, são igualmente brilhantes, me ocorrendo aquele conto do Carlos Drummond de Andrade que diz que João amava Maria, que amava Pedro, que amava Júlia, que amava José, que não amava ninguém. Gigi era uma dessas românticas incorrigíveis que, assim como muitos de nós, simplesmente queria alguém para dividir suas alegrias e suas tristezas. E, apesar de todas as buscas, muito tempo depois, ela acaba se dando conta de que seu amor sempre esteve perto e era ela, ou seus ideais absurdos, quem não via.

Sydney Fife é o bizarro amigo de Peter, em “Eu Te Amo, Cara”. Peter apenas procurava um amigo para ser seu padrinho de casamento, mas encontra uma bela e atrapalhada amizade. Sydney é o tipo de “mala sem alça” que, apesar de engraçado, coloca em xeque o casamento de Peter. No final de tudo, entendemos que os amigos, se assim permitirmos, de certa forma, também se casam conosco. E escolhem o mesmo dia, a mesma hora, o mesmo altar, o mesmo padre e, muitas vezes, a mesma noiva.

Em “Divã”, Mercedes precisou de três anos de terapia para conversar consigo mesma, para se entender na vida. Mas, chegou o dia em que ela deu alta para o seu analista. Mercedes viveu com toda a intensidade o seu casamento, a sua vida, a amizade com Mônica. Viveu suas alegrias, seus infortúnios, seus amores, e a desilusão com o marido. Porém, Mercedes entendeu que a vida é como um mapa, um tabuleiro que se modifica a todo instante. Aquilo que ela procurava no passado, nunca estaria no mesmo lugar no dia seguinte, no momento seguinte. E de nada adiantaria voltar ao mesmo ponto de partida, para viver a mesma situação, porque nada mais estaria lá como antes, a não ser ela mesma.

— Você gostou desse filme, meu amor?

— Na sua companhia, tudo fica agradável, admirável e pleno — respondi, com o coração enternecido.

Comments (3)

  1. Será que realmente conseguimos decifrar este alguém por quem nutrimos tanto sentimento? Porque eu acredito que não conseguimos nem nos decifrar por completo, que dirá uma outra pessoa… agora realmente levamos os pacote completíssimo!!! Quanto aos amigos, concordo, como dizia Voltaire “A amizade é o casamento de almas”… nós casamos com nossos melhores amigos, mas só com os melhores!!! Grande beijo.

  2. Será que quando nos apaixonamos rapidamente, conseguimos decifrar a pessoa amada? Acredito que a paixão nos deixa completamente cegos… sendo muito difícil decifar o nosso amor. Como você disse, o importante é não ficarmos aprisionados, e sim libertar nosso coração para o amor.

  3. Nossa, o comentário da Lis fala por si só! Enquanto o amor que possa nos tornar completamente pleno não surge, deixemos nos amar pelos amigos – talvez o amor mais honesto e incondicional depois de nossos “amores de sangue”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Close
Sign in
Close
Cart (0)

Nenhum produto no carrinho. Nenhum produto no carrinho.



Currency