De Repente, Natal

As árvores das calçadas estavam enfeitadas e o espírito do Natal parecia invadir o coração de toda a gente. Logo mais, os últimos dias prenunciariam a chegada de um novo tempo e cada qual faria seus votos e simpatias para que o próximo ano fosse um ano melhor. Nas noites de dezembro, via-se que as crianças brincavam de caçar vagalumes que piscavam cintilantes, mas pareciam cada vez mais escassos e raros na região. Antigamente, encontrava-se o inseto às dúzias — lembrava Margô —, mas a urbanização e o excesso de luzes da cidade fizeram com que eles minguassem ou mudassem de rota para um interior distante.

De repente, o Natal havia chegado para os povos Cristãos. Nessa época, a nossa casa se enchia de alegria. Na noite do dia 24, viriam os familiares, os tios, os irmãos e alguns amigos. Eram dias de festa e confraternização, mas eu, particularmente, continuava preocupado porque a fraca colheita das flores me rendera pouco dinheiro no último ano e os custos da festa eram bastante altos. Margô, por sua vez, me tranquilizava dizendo que daria um jeito, que no final tudo daria certo. Ao longo de mês, ela organizava o evento, planejava a ceia, idealizando o que seria servido, além dos pratos tradicionais e natalinos como as aves, a rabanada e a farofa. Margô estocava bebidas, imaginava a decoração e se preparava para montar a grande árvore que seria minimamente enfeitada.

A árvore era um pinheiro natural, da família das araucárias, geralmente cultivada em alguma fazenda do interior do Paraná. O pinheiro era colocado em uma lata com pedras e água, e uma aspirina para que não murchasse seus galhos até a chegada do Dia de Reis. Na parte de baixo, além dos presentes, havia um presépio montado sobre a areia fina de praia e a barba de pau, com o Menino Jesus, José e Maria, as ovelhas e os Três Reis Magos. Em seus galhos, pendurava-se o algodão que imitava a neve, como se o Polo Norte fosse ali, além de muitas bolinhas coloridas. E a crista do topo magistral, estava reservada para a Estrela Guia.

Naquela semana, Margô e Flor faziam questão de reunir o maior número de voluntários para confeccionar biscoitos e bolos de Natal, que seriam servidos na ceia da Associação de Moradores da pequena comunidade.

Tia Eusébia, uma doceira de mão cheia e muito experiente, instruía e distribuía as tarefas nos grupos para o preparo de cada receita, e para a finalização dos assados no forno à lenha, construído num anexo ao prédio principal. Todo ano, ela ensinava às mães uma receita de um biscoito natalino confeitado com açúcar colorido, herdada dos seus antepassados, que também fazia o maior sucesso na festa de Margô. A criançada, por curiosidade, costumava brincar à volta da árvore cuidadosamente montada na Associação. Assim, cada qual poderia conferir os nomes etiquetados nos pacotes de presente, discretamente. E quanto maior fosse o embrulho — imaginavam —, tanto melhor teriam se dedicado aos estudos e se comportado durante aquele ano.

O Natal era um tempo mágico e especial, que forçava o espírito das pessoas cristãs a dividir e a distribuir presentes, complacência, perdão e sentimentos enobrecidos pelos ensinamentos de Jesus. Margô, presidente da Associação, e Flor, voluntária, jamais se esqueciam de praticar a caridade, empenhando-se ao longo de um ano inteiro. Na noite de Natal, porém, era um hábito convidar algumas crianças para participarem da festa em nossa casa. No entanto, Margô, mesmo com a ajuda de Flor, tinha dificuldade em selecionar um pequeno grupo, dada a grande quantidade de crianças. Mas ela sabia que assim poderia compartilhar a felicidade na sua forma mais genuína e exemplar, nutrindo o sentimento de amor e compaixão ao próximo, enquanto eu, preferencialmente, elegia Kim. Talvez o filho que tanto desejei.

Comentários (3)

  1. Que delícia de texto…
    Me fez lembrar a infância tb. Como eu era uma criança querida e aplicada, nunca tive medo, mas o coração batia muito forte com a sua chegada.Hoje, nosso Papai Noel tem outro nome, que a todo ano nos visita nesta época, nos trazendo mtas alegrias. Acho que feliz de quem tem uma família, para na noite de Natal poder sentar à mesa, com uma linda ceia, e trocar abraços. Me sinto privilegiada por isso. Só peço ao Papai Noel, que este ano eu possa ter ao meu lado família e amigos, todos com saúde e mta alegria.
    A todos um FELIZ NATAL!

  2. Seus textos são sempre maravilhosos, nos tiram da realidade, nos levam ao imaginário!!! Que delicia e que saudade de quando vc nos presenteava com tuas palavras toda semana!
    Feliz Natal pra ti e tua família querida!!!
    Beijos Lis

  3. De repente Papai Noel chegou, com os olhos cor de ternura e um sorriso em forma de carinho que, numa voz em tom de afago, saudou-me. De repente um Natal cheio de emoções invadiu o meu coração. Me senti uma criança diante do bom velhinho. De repente me senti dentro de um sonho, e me deixei levar pela fantasia do Natal. Nunca mais o vi, mas fiquei com a certeza de que ele sempre está comigo, em todas as noites de Natal.

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