Pessoas e Cachorros

Gosto muito de arte, de pessoas e cachorros, mas o mundo anda desinteressante e cruel demais. Gosto de ir ao cinema, gosto de ouvir música, gosto de dançar e ir ao teatro uma vez por semana. Gosto de assistir ópera e balé, e lamento o que está acontecendo com as Artes em nosso país. A mediocridade e o falso moralismo, enfim, encontraram eco e voz no tribunal da rede antissocial. Nosso país retrocede e vai muito mal. Gosto de cuidar do meu jardim e cultivar margaridas. Gosto de árvores e flores. Gosto de comer churros, cachorro-quente e pipoca na carrocinha da esquina. Ainda compro jornal e revista na banca da praça, que bem logo deixará de existir. Ponho os pés ao sol uma vez por semana e na água do mar uma vez por mês. Gosto de assar pão, de comer cuca com chimia e mumu. Gosto de beber chá e cerveja artesanal. Gosto de escrever. Gosto muito de escrever. Conto histórias de amor que quase ninguém lê. Interesso-me por muitas coisas nessa vida, principalmente por livros de História e Filosofia, e biografias de pessoas que tem o que contar. Gosto de fotos de objetos e de paisagens. Contudo, não me interesso pelo helicóptero que você estaciona no quintal. Não me interessa a imagem da carne crua que você ainda vai assar, ou o prato que você ainda vai comer. Não me interessa a academia que você malha, o número de gomos do seu abdômen, o volume da sua coxa ou dos seus glúteos, nem se você está magro, gordo ou em forma, ou se acaba de sair do armário ou do salão. Não me interessa a superexposição da minha imagem, nem da sua, mas concordo que Andy Warhol já nos anos 90 tinha toda razão. Pouco me importa a marca do seu vestido, do seu jeans, da sua bolsa, do seu veículo, do seu paletó. Pouco me importa a festa que você frequentou na noite passada, mas me interesso pelo nome do espumante ou do vinho que você bebeu, caso ele tenha sido bom. Não me interessa se você é carnívoro ou vegano. Hitler era vegetariano e causou muito mal à Humanidade. Não me interesso por frases de efeito, nem por mensagens de autoajuda, nem se você reza diariamente, ou se acredita no diabo ou em Deus. Não me interessa a sua religião, a sua orientação sexual, a sua opção política, mas o seu preconceito me atinge diretamente, e principalmente quando você vota mal. Valores e gostos mudam o tempo todo, e aceito você do jeitinho que você é. Respeito seu comportamento e posicionamentos, e se suas ideias foram boas, farei questão de te acompanhar. Farei questão de te seguir. Vou me sentir feliz, também, por saber que você gosta de contemplar o por do sol, a lua e as mesmas estrelas que toda noite aparecem no céu — para mim e para você — e que, finalmente, você começou a meditar. Gosto muito de arte, de poesia, de flores, de árvores e, sobretudo, de cachorros. E lamento que falte solidariedade no mundo, e que muitas pessoas andam egoístas e desinteressantes demais.

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