Havia uma figura muito popular na cidade do Rio de Janeiro, chamada carinhosamente de Gentileza. O nome do sujeito era José Datrino, natural de Cafelândia, do interior do estado de São Paulo. Ele também era conhecido como Profeta Gentileza, ou José Agradecido, vindo a falecer aos 79 anos, em 29 de maio de 1996, porém, permanecendo vivo na memória e no imaginário da cidade. Sua missão inicial fora levar palavras de gentileza e conforto às famílias das vítimas do incêndio do Gran Circus Norte Americano, instalado à época na cidade de Niterói. A partir dos anos de 1980, o profeta passou a pintar suas palavras de poesia e paz nas colunas sob o viaduto do Caju, próximo ao cemitério, que vai da Avenida Brasil até a altura da rodoviária, no centro da cidade. Posteriormente, suas inscrições ficaram conhecidas como o “livro urbano”, sendo as cinquenta e seis inscrições tombadas no ano de 2000 pela prefeitura, garantindo assim a preservação e a memória do poeta que sugeria que a comunidade passasse a praticar a gentileza. Talvez, a sua mais célebre frase tenha sido: “Gentileza gera gentileza”. O profeta propunha em seus dizeres uma crítica à notável falta de valores da sociedade e a sua vontade de mudança, proclamando que só o amor era capaz de mudar as pessoas e salvar o mundo. Gentileza tinha toda razão. É urgente encontrarmos uma nova forma de nos relacionar, de nos comunicar. Com a demolição da perimetral no ano de 2015, a decisão e a boa-vontade dos secretários do município mantiveram preservados os quatro pilares que continham as inscrições do poeta, por contarem uma narrativa cosmológica numerada em versículos. Hoje, dizem os moradores do entorno e admiradores de sua obra, que outros mil anos haverão de passar, mas o desejo do poeta, que peregrinava com sua longa barba e túnica branca — uma importante personalidade urbana carioca —, permanecerá intacta no concreto e viva no imaginário dos cidadãos, bem como o desejo de que o homem seja mais solidário e gentil com os outros homens. Gentileza faz muita falta nos dias de hoje, bem como educação, cavalheirismo, amabilidade, simpatia, urbanidade, garbosidade, delicadeza, cortesia, elegância, galanteria, distinção, generosidade, complacência, afabilidade, graciosidade, altivez, brio, competência, nobreza, civilidade e também vergonha.

Comments (5)

  1. Aqui no sul, tem as plaquinhas JESUS BREVE VOLTARÁ que fazem a festa de postes e muretas a lá Gentileza Gera Gentileza. A daqui, como a daí, é um consolo para aqueles que sofrem a falta de delicadeza que irracionalista os homens e os faz preferirem animais de extimação à filhos. Parabéns pelo belo post!

  2. Concordo quando diz que é cada vez mais difícil esperar gentileza dos outros. Poucos hoje em dia praticam esse “exercício” de boa vontade,o mundo se tranformou num lugar de interesses próprios. Raramente se vê pessoas voltadas ao bem comum. Haja vista à destruição de florestas e geleiras, o aumento da corrupção, a destruição dos lares, dos valores familiares, êita! Melhor parar por aqui, afinal isso tudo é apocalíptico, e da Palavra eu não dúvido. E como atraímos aquilo que irradiamos, prefiro ficar com meus pouco e bons, pois de lá eu sei o que esperar, inclua-se nessa. Sou à favor daquela estorinha do passarinho que levava água no bico pra apagar o incêndio, afinal o exemplo para as futura gerações somos nós, espero estar dando o meu melhor. A propósito, é uma honra estar aqui.Bjão!

  3. Falta mesmo mais gentileza nesse mundo, incrível como a gente se choca com o correto e deixa passar batido a má educação alheia. Sinal dos tempos. Fico feliz que agora esteja se dedicando ao jornalismo através da Assessoria de Imprensa, bem-vindo ao time! Boa sorte porque ser empreededor e comunicólogo nesse país, não é mole não! Mas a gente consegue, porque temos talento! Beijos!

  4. Nossa! Como foi bom ler esse texto. Primeiramente porque sempre tive curiosidade de saber sobre os “Escritos de Gentileza”, mas nunca fui a fundo. Soube alguma coisa por outras bocas curiosas mas nada de significativo que ficasse em minha memória. Meu pai foi um dos “sobreviventes” do circo de Niterói. Só não morreu porque o tio dele chegou atrasado e por isso não chegaram a tempo (essas coisas do destino). E segundo porque amo essa música da Marisa e não sabia da origem dela. Nossa! Tudo ficou mais claro e a canção mais bonita! Como sempre, muito bom ler o seus textos… tô indo pra outro… eu volto!

  5. Me fez lembrar um trabalho sobre o Gentileza que eu e Annie fizemos, não sei em qual período. Você acredita que entrevistamos o Leonardo Guelman? Ele é (ou foi) coordenador do projeto “Rio com Gentileza”, já ouviu falar? Daria um bom desdobramento para o texto! Olha eu pagando de colaboradora, hehehe. Mas ficou muito bom, como todos os seus textos, amigo! Parabéns!

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